Práticas tecidas pela fé no cotidiano das devoções aos milagreiros em cemitérios do Ceará

Autores

DOI:

https://doi.org/10.9789/2525-3050.2019.v4i8.331-360

Palavras-chave:

Martírio, Devoção, Milagreiros, Santos populares, Devoção em cemitérios

Resumo

Este artigo enfoca a relação entre a morte e a formação da devoção a dois milagreiros em cemitérios do interior do Ceará. O primeiro é João Ferreira Gomes, conhecido popularmente como João das Pedras, o ladrão que roubava dos ricos para dar aos pobres, que morreu eletrocutado, em abril de 1978, quando tentava roubar uma casa na cidade de São Benedito. O segundo é o médico e ex-prefeito de Crateús, morto a facadas, em setembro de 1969, em decorrência da disputa por terras vizinhas ao sítio onde morava. A partir do recurso a entrevistas aos devotos e da análise de reportagens de jornais locais, busco compreender como a morte e fatos a ela ligadas, tais como a violência e o martírio, originaram e alimentam até hoje a devoção ainda praticada junto aos respectivos túmulos, transformando-os nos milagreiros do cemitério da localidade onde viveram. A partir do estudo desses casos, pretendo mostrar que a morte para estes sujeitos não significou o fim, mas o início de uma nova trama costurada pela fé nos milagres.

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Biografia do Autor

Michelle Ferreira Maia, Centro Universitário UNINTA

Doutora em História pela Universidade Federal da Grande Dourados, Mato Grosso do Sul, Brasil. Professora dos cursos de Direito e de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário UNINTA. No curso de Direito ministra a disciplina História do Direito e no curso de Arquitetura e Urbanismo ministra as disciplinas Estética e História da Arte, Humanidades Ciências Sociais e Cidadania. É Gestora de Pesquisa nessa mesma instituição. CV: http://lattes.cnpq.br/4057711169850301

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Publicado

2020-01-29

Como Citar

Maia, M. F. (2020). Práticas tecidas pela fé no cotidiano das devoções aos milagreiros em cemitérios do Ceará. Revista M. Estudos Sobre a Morte, Os Mortos E O Morrer, 4(8), 331–360. https://doi.org/10.9789/2525-3050.2019.v4i8.331-360