O morto no lugar dos mortos: classificações, sistemas de controle e necropolítica no Rio de Janeiro

Autores

  • Flavia Medeiros Santos Núcleo Fluminense de Estudos e Pesquisa (NUFEP/PPGA). Universidade Federal Fluminense (UFF) Rua Professor Marcos Waldemar de Freitas Reis, s/nº, São Domingos Niterói, RJ

DOI:

https://doi.org/10.9789/2525-3050.2018.v3i5.72-91

Resumo

Neste artigo apresento reflexões elaboradas a partir das etnografias que realizei em instituições policiais que atuam na gestão de mortes e mortos na região metropolitana do Rio de Janeiro/Brasil entre 2010 a 2014. Particularmente, apresento dados produzidos no âmbito do Instituto Médico-Legal e da Divisão de Homicídios para demonstrar como a violência que produz mortos é tratada pelos mecanismos de classificação e poder mobilizados por um estado, através de suas instituições policiais. Por práticas, burocracias e moralidades, demonstro como agentes policiais organizam um regime necropolítico presente, tanto pela centralidade da morte no cotidiano dos sujeitos e instituições quanto na multiplicidade de tempos e espacialidades que os mortos constituem. Neste sentido, abordo o papel do controle estatal da vida social dos mortos, para discutir o que os mortos alvo da violência submetidos a essa política de morte podem vir a produzir.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Flavia Medeiros Santos, Núcleo Fluminense de Estudos e Pesquisa (NUFEP/PPGA). Universidade Federal Fluminense (UFF) Rua Professor Marcos Waldemar de Freitas Reis, s/nº, São Domingos Niterói, RJ

Pós-Doutoranda (PNPD/CAPES) vinculada ao Núcleo Fluminense de Estudos e Pesquisa (NUFEP/PPGA), da Universidade Federal Fluminense (UFF), Brasil. Doutora em Antropologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Brasil. Também atua como pesquisadora do Núcleo de Ensino, Pesquisa e Extensão em Administração Institucional de Conflitos (NEPEAC/PROPPi/ UFF) e do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos (NEIP).

Referências

AGAMBEN, Giorgio. Homo Sacer: O Poder Soberano e a Vida Nua I. Tradução. Henrique Burigo. 2 ed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002. 197p.

ANISTIA INTERNACIONAL. “Você matou meu filho”: Homicídios cometidos pela Polícia Militar na cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Anistia Internacional, 2015. 90p.

BOURDIEU, Pierre. A economia de trocas linguísticas: o que falar quer dizer. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2008. 192p.

BRASIL. A declaração de óbito: documento necessário e importante. 3. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2009. 38p.

BUTLER, Judith. Vida Precaria. El poder del duelo y la violencia. Buenos Aires: Paidós, 2006. 192p.

CUNHA, Neiva Vieira da, e MELLO, Marco Antonio da Silva. Novos conflitos na cidade: A UPP e o processo de urbanizacão na favela. DILEMAS: Revista de Estudos de Conflito e Controle Social. Rio de Janeiro, v. 4, n. 3, p. 371-401, jul./set. 2011.

EILBAUM, Lucía. O bairro fala: conflitos, moralidades e justiça no conurbano bonaerense. São Paulo: Hucitec Editora; ANPOCS, 2012. 448p.

FARIAS, Juliana. Fuzil, caneta e carimbo: notas sobre burocracia e tecnologias de governo. Confluências: Revista Interdisciplinar de Sociologia e Direito. v. 17, n. 3, p. 75-91, 2015.

FERREIRA, Letícia Carvalho de Mesquita. Dos Autos da Cova Rasa: a identificação de corpos não-identificados no IML-RJ, 1942-1960. Rio de Janeiro: FINEP/E-Papers, 2009. 197p.

FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1979. 295p.

____. O Nascimento da Clínica. Rio de Janeiro: Editora Forense Universitária, 1980. 241p.

____. Omnes et Singulatim: Por uma crítica da “razão política”. Novos Estudos. São Paulo, n. 26, p. 77-99, mar./1990.

____. A ordem do Discurso. Aula Inaugural no Collége de France, pronunciada em 2 de Dezembro de 1970. São Paulo: Edições Loyola, 1996. 80p.

____. Vigiar e punir: História da violência nas prisões. Petrópolis: Vozes, 2007. 296p. GELL, Alfred. Art and Agency. Oxford: Oxford University Press, 1998. 296p.

GIROUX, Henry. Reading Hurricane Katrina: Race, Class, and the Biopolitics of Disposability. College Literature. West Chester (PA), v. 33, n. 3, p. 171-196, 2006.

GOOD, Byron J. Medicina, racionalidad y experiência. Uma perspectiva antropológica. Barcelona: Edicions Bellaterra, 2003. 375p.

KANT DE LIMA, Roberto. A Polícia da Cidade do Rio de Janeiro: seus dilemas e paradoxos. 2a ed. Rio de Janeiro: Ed. Forense, 1995. 164p.

LATOUR, Bruno e WOOLGAR, Steve. A vida de laboratório: a produção de fatos científicos. Rio de Janeiro: Relume-Dumara, 1997. 312p.

LEENHARDT, Maurice. Do Kamo: la personne et le mythe dans le monde mélanésien. Paris: Gallimard, 1947. 322p.

LEITE, Marcia Pereira. Da “metáfora da guerra” ao projeto de “pacificação”: favelas e políticas de segurança pública no Rio de Janeiro. Revista brasileira de segurança pública. São Paulo, v. 6, n. 2, p. 374-389, ago/set 2012.

MACHADO DA SILVA, Luiz Antonio. “‘Violência urbana’, segurança pública e favelas: O caso do Rio de Janeiro atual”. Cadernos CRH. Salvador, v. 32, n. 59, p. 283-300, 2010.

MARTINS, Jose de Souza (Org.) A morte e os mortos na sociedade brasileira. São Paulo: Hucitec, 1983. 339p.

MAUSS, Marcel. A expressão obrigatória dos sentimentos (rituais orais funerários australianos). In: ____. Ensaios de sociologia. São Paulo: Perspectiva, p. 325-331, 1999.

____. Uma categoria do espírito humano: a noção de pessoa, a de “eu”. In: ____. Sociologia e antropologia. São Paulo: Cosac & Naify, p. 367-397, 2003.

MBEMBE, Achilles. Necropolitics. Public Culture. Durham (NC), v.15, n. 1, p. 11-40, 2003.

MEDEIROS, Flavia. O ‘monstro’ e o ‘homem’: Aspectos da construção institucional de mortos no Instituto Médico Legal do.Rio de Janeiro. Dilemas: Revista de Estudos de Conflito e Controle Social. Rio de Janeiro, v. 7, n 2, p. 347-365, 2014.

MEDEIROS, Flavia. “Matar o morto”: uma etnografia do Instituto Médico-Legal do Rio de Janeiro. Niterói: Eduff, 2016a. 221p.

_____. “Linhas de investigação”: uma etnografia das técnicas e moralidades sobre “homicídios” na Polícia Civil da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Tese (Doutorado em Antropologia). Programa de Pós-Graduação em Antropologia, Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2016b. 287p.

MENEZES, Palloma Valle. Entre o “fogo cruzado” e o “campo minado”: uma etnografia do processo de “pacificação” de favelas cariocas. Amsterdam: Vrije Universiteit, 2015. 445p.

MISSE, Michel; GRILLO, Carolina; TEIXEIRA, César; NERI, Natasha. Quando a polícia mata: homicídios por “autos de resistência” no Rio de Janeiro (2001 - 2011). Rio de Janeiro: NECVU; BOOKLINK, 2013. 196p.

PITA, Maria Victoria. Formas de morir y formas de vivir: uma etnografia del activismo contra la violencia policial. Buenos Aires: CELS/Editores del Puerto, 2010. 242p.

SOARES E SOUZA, Taiguara. Constituição, Segurança Pública e Estado de Exceção Permanente: a biopolítica dos autos de resistência. Rio de Janeiro: Direito PUC 2010. 222p.

SOUZA LIMA, Antônio Carlos de. Introdução. In. _____. (Org.) Gestar e Gerir: Estudos para uma antropologia da administração pública no Brasil. Rio de Janeiro: Relume Dumará, p. 11-22, 2002.

THACKER, Eugene. Necrologies or the Death of the Body Politic. In. CLOUGH and WILSE. (ed.) Beyond Biopolitics. Durham and London: Duke University Press, p. 139-162, 2011.

TISCORNIA, Sofía. Activismo de los derechos humanos y burocracias estatales. El caso Walter Bulacio. 1a ed. Buenos Aires: Editores del Puerto; CELS, 2005. 256p.

ZONABEND, Françoise. De la familia. Una visión etnológica del parentesco y la familia. In: BURGUIÈRE, André; KLA- PISCH-ZUBER, Christiane; SEGALEN, Martine; ZONABEND, Françoise. (Coord.). Historia de la familia. Madrid: Alianza Editorial, p. 17-82, 1986.

Downloads

Publicado

2019-02-25

Como Citar

Santos, F. M. (2019). O morto no lugar dos mortos: classificações, sistemas de controle e necropolítica no Rio de Janeiro. Revista M. Estudos Sobre a Morte, Os Mortos E O Morrer, 3(5), 72–91. https://doi.org/10.9789/2525-3050.2018.v3i5.72-91