Um olhar antropológico sobre o suicídio: devir, formas de vida e subjetividades

Autores

  • Thiago Nagafuchi Doutor em Ciências pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), onde foi pesquisador do Grupo de Estudos das Invisibilidades e Biopolíticas Contemporâneas – GIBI. Lattes: http://lattes.cnpq.br/0893686645749911

DOI:

https://doi.org/10.9789/2525-3050.2019.v4i7.101-124

Palavras-chave:

Suicídio, Antropologia, Formas de vida, Subjetividades, Biopolítica

Resumo

O objetivo deste artigo é refletir sobre o fenômeno do suicídio, a partir de alguns referenciais teóricos antropológicos e de uma etnografia realizada em ambiente digital, entre 2014 e 2016, que resultou em uma tese de doutorado. Em um primeiro momento, explicita-se como é possível inscrever o suicídio em uma análise social, por meio de certos conceitos, como formas de vida, subjetividades e devir. A seguir são apresentados alguns sujeitos etnográficos e são analisados seus discursos de suicídio como uma forma de perda de um futuro imaginado, à luz de teorias recentes da antropologia fundamentadas nas subjetividades e nas experiências do sujeito. Assim, propõe-se uma mudança no entendimento do fenômeno do suicídio capaz de englobar também uma perspectiva multidisciplinar: mais do que um Mal a ser combatido a qualquer custo, o suicídio é, ao mesmo tempo, uma resposta e uma consequência, entranhadas na vida social e cultural, de violências e de sofrimentos sociais. Nesta intepretação, o suicídio pode ser entendido como ausência do devir ou como um devir extremo. Por fim, um olhar antropológico permite ampliar a compreensão do fenômeno, que deixa de ser somente um item nosográfico e passa a ser um elemento indissociável da experiência humana.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

ADORNO, Rubens de Camargo Ferreira. Prefácio: Pelo direito de morrer. In: MARQUETTI, Fernanda Cristina. Suicídio: escutas do silêncio. São Paulo: Editora UNIFESP, p. 9-13, 2018.

AGAMBEN, Giorgio. Homo Sacer: O Poder Soberano e a Vida Nua I. 2ª ed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2012. 197p.

ARIÈS, Philippe. The Hour of Our Death: The classic history of western attitudes toward death over the last one thousand years. New York: Vintage Books, 1981. 696p.

BIEHL, João. VITA: Life in a Zone of Social Abandonment. Berkeley: University of California Press, 2005. 404p.

BIEHL, João. A Life: Between Psychiatric Drugs and Social Abandonment. In: BIEHL, João; GOOD, Byron & KLEINMAN, Arthur. Subjectivity: Ethnographic Investigations. Berkeley: University of California Press, p. 397-421, 2007.

BIEHL, João. Antropologia do Devir: Psicofármacos – Abandono Social – Desejo. Revista de Antropologia da USP. São Paulo, v. 51, n. 2, p. 413-49, 2008.

BIEHL, João & LOCKE, Peter. Unfinished: The Anthropology of Becoming. London: Duke University Press, 2017. 400p.

CAVELL, Stanley. Comments on Veena Das’s Essay ‘Language and Body: Transactions in the Construction of Pain’. In: KLEINMAN, Arthur; DAS, Veena & LOCK, Margaret. Social Suffering. Berkeley: University of California Press, 1997.

DAS, Veena. Life and Words: Violence and the Descent into the Ordinary. Berkeley: University of California Press, 2007. 296p.

DAS, Veena. Adjacent Thinking: A Postscript. In: CHATTERJI, Roma. Wording the World: Veena Das and Scenes of Inheritance (Forms of Living). New York: Fordham University Press, p. 372-399, 2015.

DURKHEIM, Emile. O Suicídio. São Paulo: Editora Martin Claret, 2008. 552p.

FASSIN, Didier. Ethics of Survival: A Democratic Approach to the Politics of Life. Humanity. Philadelphia, v. 1, n. 1, p. 81-95, 2010.

FASSIN, Didier. The Parallel Lives of Philosophy and Anthropology. In: DAS, Veena et al. (Ed.). The Ground Between: Anthropologists Engage Philosophy. Durham: Duke University Press, p. 50-70, 2014.

FASSIN, Didier. The Value of Life and the Worth of Lives. In: DAS, Veena & HAN, Clara (Eds.). Living and Dying in the Contemporary World: A Compendium, Oakland: University of California Press, p. 770-782, 2016.

FASSIN, Didier. Life: A Critical User’s Manual. Cambridge: Polity Press, 2018. 158p.

FAULKNER, Thomas. Absalão, Absalão! São Paulo: Cosac Naify, 2014. 352p.

FISCHER, Michael M. J. Epilogue: To Live with What Would Otherwise be Unendurable: Return(s) to Subjectivity. In: BIEHL, João; GOOD, Byron & KLEINMAN, Arthur (Eds.). Subjectivity: Ethnographics Investigations. Berkeley: University of California Press, 423-446, 2007.

GIDDENS, Anthony. A Transformação da Intimidade: Sexualidade, Amor e Erotismo nas Sociedades Modernas. São Paulo: Editora UNESP, 1993. 228p.

GUILLON, Claude e LE BONNIEC, Yves. Suicídio: Modo de usar, história, técnica e notícia. Lisboa: Ed. Antígona, 1990. 305p.

KLEINMAN, Arthur; DAS, Veena & LOCK, Margaret. Social Suffering. Berkeley: University of California Press, 1997. 464p.

KLEINMAN, Arthur; FITZ-HENRY, Erin. The Experiential Basis of Subjectivity: How Individuals Change in the Context of Societal Transformation. In: BIEHL, João; GOOD, Byron & KLEINMAN, Arthur (Eds.). Subjectivity: Ethnographics Investigations. Berkeley, University of California Press, P. 52-65, 2007.

LOCK, Margaret. Twice Dead: Organ Transplants and the Reinvention of Death. Berkeley: University of California Press, 2002. 429p.

MALINOWSKI, Bronislaw. Magic, Science and Religion, In: ROBBEN, Antonius C.G.M. (Ed.). Death, Mourning, and Burial: A Cross-Cultural Reader. Malden: Blackwell Publishing, 2004.

MARQUETTI, Fernanda Cristina. O Suicídio como Espetáculo na Metrópole de São Paulo. São Paulo: Editora UNIFESP, 2012. 248p.

MARQUETTI, Fernanda Cristina. O Suicídio e sua essência transgressora. Psicologia USP. São Paulo, v. 25, p. 237-245, 2014.

MARQUETTI, Fernanda Cristina. As Noivas Vermelhas, In: _______ (Org). Suicídio: escutas do silêncio. São Paulo: Editora UNIFESP, p. 177-202, 2018.

MARX, Karl. Sobre o Suicídio. São Paulo: Boitempo, 2006. 84p.

MAUSS, Marcel. Sociologia e Antropologia. São Paulo: Cosac Naify, 2003. 542p.

MINOIS, Georges. History of Suicide: Voluntary Death in Western Culture. Baltimore: The Johns Hopkins University Press, 1999. 400p.

NAGAFUCHI, Thiago e ADORNO, Rubens de Camargo Ferreira. Suicídio, Gênero e Sexualidade na Era Digital. Saúde & Transformação Social. Florianópolis, v. 7, n. 3, p. 22-35, 2016.

NAGAFUCHI, Thiago. Um réquiem feito de silêncios: suicídio, gênero e sexualidade na era digital. Tese (Doutorado em Saúde Pública). Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2017. 217p.

NAGAFUCHI, Thiago. Em busca de vozes no silêncio: suicídio, gênero e sexualidade na era digital. In: MARQUETTI, Fernanda Cristina (Org.). Suicídio: escutas do silêncio. São Paulo: Editora UNIFESP, p. 147-55, 2018.

OZAWA-DE SILVA, Chikako. Too Lonely to Die Alone: Internet Suicide Pacts and Existential Suffering in Japan. Culture, Medicine and Psychiatry. On-line, v. 32, n. 4, p. 516-551, 2008.

OZAWA-DE SILVA, Chikako. Shared Death: Self, Sociality and Internet Group Suicide in Japan. Transcultural Psychiatry. Montreal, v. 43, n. 3, p. 392-418, 2010.

RONDELLI, Elizabeth e HERSCHMANN, Micael. A mídia e a construção do biográfico: o sensacionalismo da morte em cena. Tempo Social; Revista de Sociologia da USP. São Paulo, v. 12, n. 1. p. 201-228, 2000.

SILVA, Nathalia Ramos e MENEZES, Rachel Aisengart. “Se parar, parou”: categorização do morrer em uma unidade de terapia intensiva da cidade do Rio de Janeiro. Physis: Revista de Saúde Coletiva. Rio de Janeiro, v. 25, n. 1, p. 265-285, 2015.

SOLOMON, Andrew. O Demônio do meio-dia: Uma anatomia da depressão. São Paulo: Companhia das Letras, 2014. 584p.

STAPLES, James & WIDGER, Tom. Situating Suicide as an Anthropological Problem: Ethnographic Approaches to Understanding Self-Harm and Self-Inflicted Death. Culture, Medicine and Psychiatry. On-line, v. 36, n. 2, p. 183-203, 2012.

WIDGER, Tom. Suffering, Frustration, and Anger: Class, Gender and History in Sri Lankan Suicide Stories. Culture, Medicine and Psychiatry. On-line, v. 36, n. 2, p. 225-244, 2012.

Downloads

Publicado

2019-09-01

Como Citar

Nagafuchi, T. (2019). Um olhar antropológico sobre o suicídio: devir, formas de vida e subjetividades. Revista M. Estudos Sobre a Morte, Os Mortos E O Morrer, 4(7), 101–124. https://doi.org/10.9789/2525-3050.2019.v4i7.101-124