A ENFERMAGEM E O CUSTO COM OS MATERIAIS HOSPITALARES: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Autores

  • Bruno Teixeira de Siqueira Unirio-EEAP
  • Vivian . Schutz Unirio

DOI:

https://doi.org/10.9789/2175-5361.2010.v0i0.%25p

Palavras-chave:

Enfermagem, Administração de materiais no hospital, Custos hospitalares.

Resumo

INTRODUÇÃO: O elevado custo com a saúde no Brasil e a dificuldade em financiá-la estão levando os prestadores, financiadores, autoridades e usuários a se preocuparem cada vez mais com o custo dos serviços de saúde e seus reflexos sobre a qualidade desses serviços.  Vivemos em uma sociedade capitalista onde existe um valor agregado a todas as coisas. Seja em um objeto ou na realização de produção intelectual, estamos imersos em um mundo que se comunica através de trocas e essas trocas tem um valor expresso monetariamente. Para Pompermayer (2002) as empresas geram seus lucros através da manipulação bem sucedida desses valores e podem ser considerados como a soma parcial ou total de qualidade e produtividade, de emoção e de razão, de intuição e lógica, de capacidade empresarial e trabalho, de fé e persistência, de firmeza e equilíbrio, de vontade e garra. Pode-se constatar nas organizações, e neste contexto se insere as empresas de saúde, que os empreendedores se colocam diante de um novo cenário de ordem econômica e social. Os negócios estão diferentes, mais competitivos e os lucros estão mais difíceis de serem conquistados, exigindo mais dedicação, redução de desperdícios, diminuição de supérfluos e controle das atividades financeiras por todos os que prestam algum tipo de serviço para a empresa e que precisam dela para atender suas necessidades. O que muito tem chamado a atenção é a quantidade dos recursos necessários para que uma empresa de saúde funcione no mercado e, de um modo geral, devem ser utilizadas técnicas de planejamento, administração e controle para que a gestão desses recursos seja realizada de forma a manter a sobrevivência da mesma. O interesse em desenvolver esse estudo se baseia no fato de que a concorrência é intensa na área da saúde e que para se obter uma posição vantajosa é importante a empresa conhecer seus custos. A enfermagem trabalha diretamente com os recursos disponibilizados para o cuidado e pode ser um importante agente para esse controle. OBJETIVOS: Na intenção de começar uma investigação sobre o custo dos materiais utilizados pela enfermagem para a realização do cuidado, inicia-se uma busca a partir do que tem sido produzido na área da enfermagem sobre custos com materiais dentro das unidades de saúde, através de uma revisão bibliográfica. Desta forma o objetivo deste estudo é descrever a produção cientifica acerca dos custos hospitalares a partir dos enfoques em relação aos materiais que são utilizados pela enfermagem no ambiente hospitalar. METODOLOGIA: Trata-se de revisão bibliográfica que empregou estudos primários na Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Índice Bibliográfico Español en Ciencias de la Salud (IBECS), MEDLINE, Base de Dados de Enfermagem (BDENF) e  bases bibliográficas brasileiras de teses e dissertações da CAPES ( Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). Foram utilizados os descritores enfermagem, custos hospitalares e administração de materiais no hospital. Os critérios de seleção foram: a) publicações entre os anos de 2000 e 2010; b) redigidos em português, inglês ou espanhol; c) tratarem de custos hospitalares e; d) dispor de texto completo. O levantamento dos dados foi realizado no mês de março do ano de 2010. Ao realizar a pesquisa cruzando os descritores “enfermagem” e “custos hospitalares” foram encontrados 26 trabalhos, sendo 8 na base do LILACS, 16 na base do MEDLINE e 2 na base do BDENF. O mesmo quando realizado com os descritores “enfermagem” e “administração de materiais no hospital” foram encontrados 16 trabalhos, sendo 13 na base do LILACS, 1 na base do MEDLINE e 2 na base do BDENF. Não foram encontrados teses ou dissertações com os descritores e critérios de inclusão propostos. RESULTADOS: De todos os trabalhos analisados, três atendiam aos critérios de seleção: “A enfermagem e o gerenciamento de custos”; “Classificação ABC dos materiais: uma ferramenta gerencial de custos” e “Glosas Hospitalares: importância das anotações de enfermagem”. Fonseca (2002) indaga a questão dos custos hospitalares, contextualizando-o política e historicamente, mostrando os elementos que incentivam os profissionais a desenvolverem estudos na área. Cita que o crescimento exponencial dos custos em saúde está diretamente relacionado a uma série de fatores tais como: o emprego de novas tecnologias; o aumento da expectativa de vida da população; o crescimento da demanda, com a universalização do acesso à saúde; a escassez de mão de obra qualificada, acarretando baixa produtividade; a má gestão das organizações devido à incapacidade administrativa dos profissionais de saúde; a não implantação de sistemas de controle de custos; e os desperdícios na cadeia produtiva, dentre outros. Para Fonseca (2002) existe uma ineficiência do processo gerencial devido ao desconhecimento sobre custos de procedimento. O fato das organizações passarem a buscar ativamente o conhecimento de seus custos tem como fator, dentre outros citados, a situação econômica brasileira. Na década de 70 o país vivia um período de intenso crescimento econômico, porém, na década 80 houve o enfraquecimento marcado por uma crise mundial devido à elevação dos preços do petróleo, o que levou a uma instabilidade do sistema de preços ocasionando a elevação da inflação. Já na década de 90 houve a estabilização, porém muitas empresas fecharam e o índice de desemprego aumentou. Em meio a este contexto, as empresas de saúde começam a se preocupar com o controle de custos. A atuação do enfermeiro é de gerir recursos humanos, materiais e financeiros, visando à eficiência na racionalização destes recursos de forma que seja eficiente e financeiramente viável para a instituição, atentando para evitar desperdícios. Em seu trabalho Lourenço (2006) utiliza-se a classificação ABC dos materiais, aplicando no contexto hospitalar para conhecer os gastos com os mesmos. O texto confirma a importância do conhecimento, pela enfermagem, sobre custos hospitalares.               A classificação foi feita ordenando-se os itens de estoque segundo o seu Valor de Aquisição Ano (VAA) em ordem decrescente (VAA = quantidade adquirida X custo unitário); calculou-se o VAA acumulado item a item; calculou-se, para cada item, a percentagem do número de item em relação ao valor total dos estoques; procedeu-se a divisão em classes. Para classificar utilizou-se o seguinte critério: itens de classe A representam 50% dos custos, itens de classe B representam 30% e os de classe C 20%, revelando que 67 itens representam os itens de classe A, 205 itens representam a classe B e 1666 representam a classe C.        Um dos resultados obtidos pelo autor e que é de grande importância para o enfermeiro, é que os materiais assistenciais (como luvas, gazes, seringas, agulhas) representam 80% dos itens hospitalares e são os mais representativos na classe A. Esses materiais são utilizados, em sua maioria, pela equipe de enfermagem. Isto mostra a importância gerencial do enfermeiro na contenção dos custos hospitalares. Ao utilizar um método de classificação de materiais, o enfermeiro tem a capacidade de evidenciar quais são os materiais que necessitam de maior atenção e também possibilita fazer um planejamento para aquisição desses materiais, ou seja, a classificação possibilita um controle maior e melhor do estoque. Em outro artigo analisado Rodrigues (2004) investiga os fatores que levam às glosas hospitalares, observando que é de importância fundamental a anotação de enfermagem para evitá-las. Também aponta que os materiais utilizados no cuidado foram os que obtiveram o maior numero de glosas. O trabalho foi realizado através de uma análise nas glosas ocorridas em uma determinada instituição, através dos recursos elaborados pela mesma na tentativa de evitar que essas glosas ocorressem. Ao todo foram observados 82 tipos de glosas e um total de 17.324 itens glosados em um período de três meses. O componente material recebeu maior número de glosas (86,1%) seguido do componente medicamento (11,6%). Cabe ressaltar que ambos  componentes são constantemente utilizados pela equipe de enfermagem que está em contato direto com os materiais e que é responsável pela administração dos medicamentos. O autor afirma que o volume de materiais não pagos pelos planos de saúde eleva de forma significativa os custos da instituição. A pesquisa apontou que as anotações realizadas pela equipe de enfermagem têm fornecido informações suficientes e contribuído de forma substancial para um alto percentual de recuperação dos componentes glosados, o que mostra a importância do profissional de enfermagem na questão financeira da instituição. No hospital o qual ocorreu a pesquisa, os recursos de glosas totalizaram R$31.856,52, sendo R$17.512,37 em materiais e R$10.099,42 em medicamentos. CONCLUSÃO: A revisão apontou a pouca produção bibliográfica referente à custos dentro da área da enfermagem. Essa defasagem é extremamente prejudicial na contabilidade das empresas de saúde, tendo em vista que o enfermeiro é o profissional de maior contato com materiais da empresa e, conforme apresentado nesta revisão, materiais de uso constante pela enfermagem apresentam maior porcentagem no cálculo de custos hospitalares. Cabe ressaltar que uma das atribuições do enfermeiro é o gerenciamento do ambiente físico e do material da unidade. Ele é o responsável pela manutenção do espaço e por controle de materiais, ou seja, é de sua alçada a fiscalização de uso dispendioso ou desnecessário de materiais.                Na prática capitalista, profissionais que geram maiores lucros são mais visados pelo mercado. Ao se apropriar de conhecimentos gerencias que possibilitem o uso consciente dos materiais e minimizando desperdícios, o enfermeiro se torna mais valorizado para o mercado. Na ótica das instituições públicas de saúde, o recurso financeiro que se demanda para uma atividade dispendiosa e desnecessária irá fazer falta para os gastos realmente essenciais.

REFERÊNCIAS:

-Bruni, Adriano Leal; Fama, Rubens. Gestão de Custos e Formação de Preços. 3ª.ed. São Paulo: editora Atlas;2004.

-Francisco, Ivone Maria Fonseca; Castilho, Valéria. A enfermagem e o gerenciamento de custos.  Rev Esc Enferm USP; 36(3): 240-244, set. 2002. -Lourenço, Karina Gomes; Castilho, Valéria. Classificação ABC dos materiais: uma ferramenta gerencial de custos em enfermagem.  Rev Bras Enferm; 59(1): 52-55, jan.-fev. 2006.

- Marquis, Bessie L.; Huston, Caroj J. Administração e Liderança em Enfermagem: Teoria e Prática. 4ª Ed. Porto Alegre: Artme, 2005.

-Rodrigues, Vanessa A; Perroca, Márcia G; Jericó, Marli C. Glosas hospitalares: importância das anotações de enfermagem  Arq. ciênc. saúde; 11(4): 210-214, jan.-mar. 2004.

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Publicado

2010-11-29

Como Citar

1.
Siqueira BT de, Schutz V . A ENFERMAGEM E O CUSTO COM OS MATERIAIS HOSPITALARES: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA. Rev. Pesqui. (Univ. Fed. Estado Rio J., Online) [Internet]. 29º de novembro de 2010 [citado 28º de março de 2024];. Disponível em: https://seer.unirio.br/cuidadofundamental/article/view/992

Edição

Seção

Revisão Sistemática de Literatura

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